sexta-feira, 30 de março de 2018

Explosão de cor

No meu sonho era tudo tão legítimo, acordei com a sensação de que tudo estava bem. Não estava, não interessa, a primavera trouxe-nos um passeio a quatro e isto.


segunda-feira, 26 de março de 2018

Conveniente

Macaquitos estão nos avós, telefono para matar saudades e tanto um como outro me despacham à velocidade de "900 abraços e 1000 beijinhos". Pudera, com a boca cheia de batatas fritas (que em casa raramente comem), nem quiseram falar grande coisa, quando me apercebi já a minha mãe estava ao telefone para me dizer que dormiram muito bem e se portaram ainda melhor e todas aquelas coisas que os avós dizem mas em que só devemos acreditar a 50%, eu cá creio na parte do dormiram bem.
A meio da conversa comigo, a minha mãe dá um grito:
-Aaai, macaquito, que grande pisadela! - e ouço também o pedido de desculpa a resposta dele do outro lado.
-Não é bonito fazer queixinhas à mamã, avó. A mãe nem gosta...

quarta-feira, 21 de março de 2018

"Chega de tragédias e desgraças"

Ainda não me saiu da cabeça aquele momento, o momento em que, contra todas as minhas expectativas, subiste os degraus daquele palco, te apresentaste e à tua música e desataste a cantar. Confesso, que por mais que acredite em ti, naquele momento uma panóplia de cenas disparatadas me passaram pela cabeça, afinal quantas vezes já me fizeste rir com os teus despropósitos ou as tuas saídas inusitadas?
De repente dou comigo com uma câmara de filmar na mão, cuja bateria me esqueci de verificar e claro, sejamos realistas, estava descarregada mas que também não me serviria de nada com a carga toda pois que as minhas mãos tremiam mais que varas verdes.  Só ali percebi o quão nervosa estava mas rapidamente passei do estado de mãe neurótica ao de mãe arrebatada pela tua postura segura, pela tua voz bonita, pelo teu fado alegre e pelo teu vestuário demasiado composto apesar da gravata demasiado pequena mas azul, ninguém me tira que a vermelha é que ficava bem, e eu nem gosto de camisas e gravatas, mas azul foi a que escolheste, é a que escolhes sempre e fica-te mesmo bem.
Se não te tivesse, juro que só me restava a escapatória de vinho rasca e muito graduado para me fazer tão feliz. Mas esqueço a realidade que são as nossas tragédias presentes e fico-me fascinada pela tua vontade de vencer numa vida que nem sempre te foi generosa mas à qual te agarraste com mãos e pés fincados, deixando para segundo plano as tragédias e as desgraças.

segunda-feira, 19 de março de 2018

Se o amor desse para medir




                                                                    O nosso teria 1,90m!

quarta-feira, 14 de março de 2018

"Life would be tragic if it weren’t funny."

Escolhi uma frase de Stephen Hawking, não por acaso, é uma homenagem ao homem que superou todas as expectativas, um brilhante exemplo de que as limitações não impedem ninguém de ter uma vida extraordinária ou de ser um contributo para a sociedade.  

A sala era o nosso lugar de eleição, forrámos o chão com tapetes de borracha, os brinquedos com sons e luzes, os livros sensoriais, tudo o que pudesse estimular fazia parte do nosso chão, paredes e móveis. Metade do dia era passado em terapias, as brincadeiras eram terapias, as palavras eram pensadas quase ao milímetro e já nem dávamos conta disso.
Ele nunca desistiu, nós nunca desistimos e continuamos a celebrar cada texto escrito pela mão dele, cada nota tocada no acordeão, cada pequena superação diária da mesma forma que celebrámos as primeiras vezes que se conseguiu sentar quase com dois anos ou o primeiro passo aos três.



Precisam-se de exemplos de superação, brindem-me com eles, mostrem que é possível. Contem-me histórias de solidariedade, de inclusão, de pessoas ou entidades que acreditam que não há limites e que qualquer pessoa independentemente da sua condição pode ter impacto na sociedade. Vamos mostrar que podemos ser uma sociedade justa, que luta pelos direitos da pessoa com deficiência, as barreiras físicas podem ser eliminadas mas de nada valerá se não eliminarmos o preconceito.

segunda-feira, 12 de março de 2018

"Usa a manga do meu pijama"

Naquela metade do coração onde estás, filha... Hoje do lado maior sendo que não há dia certo para o lado de cada um, há sempre variáveis, o que se portou melhor, o que me deu o abraço maior, o que está doente e precisa de um pouco de mais amor ou apenas porque sim. Dizia eu, antes de me perder em variáveis imensuráveis. Naquela metade do coração onde estás hoje, filha, alojou-se uma certa paz, uma certeza de que estou a fazer tudo bem e que posso um dia morrer descansada com a premissa de que criei uma grande mulher. A simplicidade infantil das tuas palavras mescladas com a perspicácia e o discernimento que falta a uma boa dúzia e meia de adultos, atraiçoa-me o bom senso e acabo contigo a limpar-me as lágrimas. És tão grande miúda, vou-me lembrar disso na próxima vez que fizeres disparate.

domingo, 11 de março de 2018

Como se pode viver devagarinho, assim sem pressa de chegar a destino nenhum, diluindo o tempo em coisa nenhuma, alimentando pequenas esperanças que se prolongam nos dias e que nublam os receios inerentes a uma vida cheia de nadas. Receita simples diria, permito-me preencher os vazios, que são tantos, com fantasias de crianças que são sempre de luz, de cor e gomas. É inventar outros sonhos, diferentes dos que tinha quando tudo corria bem, é não ter medo de os perder, os sonhos, nem deixar que a angústia prevaleça. É preencher o silêncio de músicas antigas, antes que este te perfure o juízo. É dançar a três na cozinha, extravasar os demónios com coreografias malucas que arrancam gargalhadas e corrompem as saudades. É esquecer o oportunismo de quem te comeu a carne e agora lança para longe os ossos e acreditar que os sonhos que agora se fazem esperar, se realizarão de mansinho, como um raio de sol que desperta envergonhado mas radioso e que os demónios que te consomem cairão em si de razão e se desvanecerão para te deixar renascer.





quinta-feira, 8 de março de 2018

Ninguém me convidou para jantar...

Eu não ia escrever nada sobre o dia da mulher mas uma pessoa recebe 300 mil mensagens com florzinhas e corações, a dizer coisas como És mulher e mãe, feliz dia da mulher e outras que tais e pergunta-se se é este o papel redutor que continuam a querer atribuir ao dia 8 de Março e a  todas as mulheres que lutaram e lutam pela igualdade de direitos? Sim? Então parem de comemorar!
Bem basta ter um filho que me responde (quando lhe pergunto se sabe o significado deste dia)  que:
-É o dia em que as mulheres vão todas para os restaurantes...

Em oposição aos dias tristes

Apesar da chuva, tenho quase tudo o que preciso para ser feliz, a felicidade são momentos, certo? Este é o momento em que mudamos de estação de rádio e está a dar a música preferida de macaquito.



Vá, pronto, eu sei que podíamos ir ao festival mas não precisam de ser tão generosos nos aplausos...

terça-feira, 6 de março de 2018

...tenho de parar de chover!

Tem chovido muito, tenho chovido muito, prefiro os dias de sol, aqueles que me enxugam as lágrimas assim que vos pego pelas mãos e saímos mundo afora, o nosso mundo é pequenino, apenas a nossa floresta. No nosso mundo pequenino as árvores são mais verdes, a terra mais castanha e o céu é claramente mais azul. Mas tem chovido muito, tenho chovido muito, o nosso mundo pequenino parece longínquo e eu nem sempre vos consigo pegar nas mãos. Na nossa floresta as árvores ainda não têm folhas, a terra transformou-se numa lama profunda, tão profunda que já não cheira a terra molhada e o azul do céu quase é sempre cinzento. Tem chovido tanto, tenho chovido demais, albergo a esperança da primavera que se aproxima, vou pegar-vos nas mãos, vou agarrar-vos num abraço, vou esperar pelo sol dessa primavera que se avizinha, por mais negro que esteja o céu não há tempestade que me subjugue, não há guerra que sempre perdure e não há memória que nunca esvazie. Tem chovido muito...



sexta-feira, 2 de março de 2018

Eu tive dois e custou um "cadito"

-Mamã, quando for crescida vou adoptar uma criança.
-Acho que fazes bem. Só queres adoptar?
-Não queres ser avó?
-Claro que sim. 
-Há muitas crianças que não têm pais, posso adoptar um bebé.
-Sim, claro que podes. É muito bonito pensares assim. - disse-lhe realmente orgulhosa do altruísmo dela.
-Pois, achas que vou deixar que me cortem a barriga ou ter um bebé pelo pipi?! Isso deve doer!

Dramas

Perto das 9 da manhã recebo uma chamada da professora de apoio de macaquito para, que se quisesse e pudesse, acompanhar macaquito e demais colegas à hipoterapia. Era um dois em um, podia vê-lo a montar e podia trazê-lo mais cedo para chegarmos a tempo à terapia ocupacional.
Nem hesitei, meti as rodas ao caminho e fui com eles. Fiquei encantada, nunca tinha visto macaquito a montar e fiquei estupefacta com as coisas que já faz, o desembaraço em cima da égua, a "volta ao mundo" (que consiste em rodar o corpo em cima da sela até ficar de novo sentado para a frente), andar a trote, a postura direita... vim deliciada e de coração cheio.
Assim que desmontou, viemos embora pois ainda tínhamos de ir buscar macaquita. Chegámos à escola bem perto da hora de saída e seguimos para o hospital. Estava tão entusiasmada com tudo o que vi que resolvi partilhar com macaquita.  
-Sabes macaquita, hoje fui ver o mano à hipo. Foi tão giro, ele já não tem medo nenhum.
-Oh! Eu também queria ir, porque não me levaste?
-Então filha, foi na hora das tuas aulas, acabámos de chegar. Era a única forma de chegarmos a tempo à terapia.
-Pois, é sempre assim, nunca posso ir contigo! Fazes coisas com ele e eu nunca posso ir, ele vai para os cavalos e para as terapias e eu tenho de ir para a escola, nunca me levas... - continuou o discurso num tom inflamado sem conseguir disfarçar o que era na realidade, ciúme e birra. Macaquito mantinha-se em silêncio mas claro tinha de intervir e fê-lo, assim que ela fez uma pausa para respirar.
-Pronto, começou o teatro!