quinta-feira, 12 de janeiro de 2017

Sejamos cegos.

Deparo-me, pela milionésima vez, no feed do FB com uma publicação sobre crianças que não são convidadas para festas de aniversário e que são postas de parte nas mais diversas circunstâncias por serem diferentes. Estes posts acabam, invariavelmente com um "não partilhar, copie e cole no seu mural". E eu pergunto-me, para quê?
De que serve colar um rol de palavras se não lhes atribuirmos qualquer significado? Tenho a certeza absoluta que muitas das pessoas que tão bem sabem usar os comandos CTRL, sentem pouca ou nenhuma empatia quando o seu próprio bem-estar é posto em causa. 
Vamos ser determinantes, vamos ter coragem, a coragem de permitir que os nossos filhos cresçam indiferentes à diferença, que não a vejam, que a entranhem de tal forma que consigam alhear-se dela.
É um bocado utópico pensar que é possível mudar o mundo mas podemos ser um pouco egoístas e mudar o nosso mundo, aquele espaço pequenino que nos rodeia e onde temos acesso privilegiado.
Vamos dizer às nossas crianças que o lápis cor de pele pode ser de muitas cores, que a miúda a quem não deram a mão na aula de ginástica e que tem um olhar esquisito, é igualzinha a todas as outras e só queria uma mão e que o miúdo que se comporta de forma estranha, está apenas a ser criança e não sabe ser criança doutra maneira. 
Não presumo que estas minhas palavras cheguem muito longe, espero apenas criar algum desassossego nas consciências, assumamos que ninguém é perfeito, que todos temos inseguranças medos e defeitos e que isso não tem mal nenhum. 
E se o defeito for visível a olho nu... sejamos cegos.





15 comentários:

  1. já me tinham falado disso, dos convites de festas que nã são para todos... se tivesse filhos nem sei como iria lidar com isso, no meu tempo as festas eram raras, no dia de aniversário levava um bolo feito pela minha mãe para a escola e já era um privilegiado!

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    1. Vou contar-te uma história, ainda o meu miúdo andava na creche e houve uma mãe que foi buscar todos os miúdos da sala do filho para a festa de anos do mesmo, todos excepto o meu... soube mais tarde por uma amiga porque na creche não tiveram coragem de me dizer. Mas as festas são bonitas, têm sempre temas e os meninos voltam com saquinhos de rebuçados para casa e ao primeiro olhar parece tudo muito bem, só que não. Eu não tinha noção de quão más conseguem ser as pessoas, felizmente lido bem com isso.

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  2. Por enquanto aqui em casa os convites ainda seguem para a turma toda, mas sei que em breve se reduzirão ao núcleo de amigas mais chegado. Resta saber que núcleo será esse e por que motivo é aquele e não outro.

    (quanto ao lápis cor-de-pele, já levei uns valentes puxões de orelhas da Mironinho por causa de me referir assim ao lápis castanho claro).

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    1. As crianças fazerem certas escolhas é normal, o que não é normal é alguns adultos terem os conceitos todos trocados. Posso afirmar que nunca senti discriminação por parte de outros miúdos até ele entrar para o básico, de adultos sim.
      Mironinho rocks!

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    2. E devemos forçar as escolhas por forma a serem "inclusivos"? Ou melhor, como é que eu sei que determinada criança não foi escolhia por ser diferente ou simplesmente porque não sentem afinidade? Devemos "forçar" um convite para que a criança diferente não se sinta excluida.

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    3. excluida? (era uma pergunta, não uma afirmação)

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    4. Forçar não, tentar perceber se nas escolhas dos pares são inclusivos e se não são o porquê. Às vezes os miúdos excluem porque não entendem ou porque são influenciados pelo comportamento de outras crianças que lhes são mais próximas. A minha filha às vezes é pouco simpática com o irmão, é uma questão de competição pela minha atenção. Na escola não é nada assim, é uma acérrima defensora do irmão e dos colegas da unidade. Na turma dela tem uma menina com síndrome de down e adora ajudá-la e não a deixa sozinha quando ninguém quer brincar com ela, noutro dia chegou chocada a casa porque os colegas numa AEC foram maus para ela e só me dizia "se eu lá estivesse..."
      Passa por lhes fazer perceber que não têm de brincar sempre ou por obrigação com aqueles colegas mas que não os tratem de maneira diferente, não os gozem e que sejam solícitos caso necessitem de ajuda.

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    5. é isso! Pode ser um ciclo de influência. Há um menino que nunca é convidado porque há a ideia que nunca é convidado, logo os miúdos não o convidam por causa desse pressuposto.

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    6. Eu convido todos os meninos para as festas de aniversário, faço questão, mesmo sabendo que alguns "têm o diabo no corpo". Nunca o refiro em frente a ela, porque sei que a partir do dia em que me referir ao Asdrubal ou ao Blimundo coo os meninos que se portam mal, a ideia que ela e os outros vão reter, que o Asdrubal e o Blimundo são os meninos que se portam mal, mesmo que também sejam os meninos que jogam bem à bola, que têm boas notas, que cantam bem...

      Ela é muito amiga e uma menina que se porta muito mal e é malcriaa. Sempre que vem cá a casa parece um autêntico selvagem, salta por cima dos sofás (mesmo quando lhe digo que não o faça), não tem modos à mesa, grita... A Mironinho gosta imenso dela, precisamente por ser o seu oposto (espero que quando for mais velha não se lembre de se apaixonar por um bad boy :DDDDD). A minha vontade é dizer à Mironinho que está proibida de convidar a tal menina e se me perguntar porquê digo que é porque ser malcriada. Mas acho que devo guardar esse julgamento para mim (e fazer figas para que a Mironnho escolha amigas mais certinhas...).

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  3. A maternidade trouxe-me inúmeras duvidas e inseguranças e esta sempre foi uma delas: e se o meu filho nunca fosse convidado?? Por causa disso, e não só, há alguns meninos que faço questão de "lembrar" o Raúl que ele deve convidar, os outros pais desejam-me boa sorte e eu percebo que muitas vezes os filhos deles até se portam pior do que os "estigmatizados". Era tudo tão mais simples se descêssemos ao nível dos miúdos.

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    1. O que eu vejo muitas vezes nem vem dos miúdos, há um egoísmo atroz da parte de muitos pais. É muito fácil ter pena, olhar e julgar de longe mas se tiverem de actuar em determinada situação num sentido diferente daquele que determinaram para os seus filhos, mesmo que esse sentido seja o correcto, dificilmente cederão. Quase toda a gente que conheço é empática com a inclusão mas se tiverem na turma dos seus filhos, por exemplo, uma criança que não segue a norma do socialmente correcto, movem mundos e fundos para que aquela criança saia dali. Isto é um exemplo, nunca aconteceu comigo mas conheço casos.

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  4. No dia em que abordei a mãe de uma menina com autismo, colega dos meus filhos, convidando a menina para a festa de aniversário deles, partiu-se-me o coração. Foi enorme o espanto desta mãe. Fiquei com a sensação de que foi o primeiro convite que alguma vez teve. Para mim e para os miúdos foi tão natural como convidar qualquer outro amigo. Nesse dia senti um misto de felicidade e vergonha.

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    1. <3 Claro que é natural, é pena que tenhamos de sentir vergonha de atitudes que nunca teríamos.

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  5. Os meus tiveram todos a grande fortuna de frequentar JI e Básicas com sala de multideficiência que recebe crianças até ao final do primeiro ciclo, e em que cada sala (6 de JI e 12 de 1º ciclo) tem duas crianças com NEE que, como sabes, foi, durante uns anos, o máximo legal. A regra, ensinada aos pais no início de cada ano lectivo, era a de que convites para festas eram extensivos a todos, sem excepção. E, naquele momento de cantar os parabéns na sala, quando as mães levam o bolo, se quisessem levar saquinhos, tinham que levar em número suficiente para todos. A educadora/professora contava-os à chegada da mãe do aniversariante e, se faltasse um, não distribuía nenhum.
    Eu sempre convidei a turma toda, porque, naquelas idades, as festas são em espaços grandes, onde cabe sempre mais um (o próprio JI e a Primária arrendavam o espaço para festas). Nem sempre, ou quase nunca, os meninos com NEE apareciam. Mas lembro-me da festa de um menino com espectro (Vasco, dono do mais belo cabelo que algum dia vi na vida), à qual compareceu a turma em peso, e foi um sucesso retumbante.
    A aceitação — que é uma diluição —, das diferenças, quer haja ou não NEE, continua pela vida fora, quando começa na escola (e em casa, já agora). Os convites para ir a casa, às festas ou ao cinema, continuaram a acontecer, exactamente porque os miúdos não (se) distinguiam (uns dos outros). Mas, às vezes, acho que vivo num mundo ideal, e que no resto da cidade e pelo país fora não é nada assim.

    Beijos, Be.

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    1. Sei que não serias doutra forma :)
      Façamos mais "mundos" ideais.
      Beijo Linda (por dentro e por fora) Blue

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Dá cá bananinhas!